Paraty e Ilha Grande ganham primeiro título de Patrimônio Mundial Misto do Brasil
Região possui áreas de seis municípios brasileiros dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro
Por Cecília Melo e Victor Alves
Praia da Grumixama, em Ilha Grande (RJ), uma das regiões que recebeu o título de patrimômio misto mundial da Unesco. Crédito: Rogério Cassimiro/MTur
Paraty e Ilha Grande, ambas no Rio de Janeiro, receberam, nesta sexta-feira (5), o título de Patrimônio Cultural e Natural Mundial da Unesco. Com o reconhecimento internacional, o local se tornou o primeiro sítio misto do Brasil. A decisão foi dada por um conjunto de 21 integrantes da entidade em Baku, Azerbaijão. Agora, o Brasil possui 22 bens na lista de sítios de excepcional valor universal.
O título abrange áreas de seis municípios dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, sendo que a maior parte está em Paraty (RJ) e Angra dos Reis (RJ). A região preservada inclui, ainda, Ubatuba (SP), Cunha (SP), São José do Barreiro (SP) e Areais (SP). Com cerca de 85% da cobertura vegetal nativa bem conservada, a área forma o segundo maior remanescente florestal do bioma Mata Atlântica e é cercada por quatro áreas de conservação ambiental, além de ser palco de um dos principais centros históricos e culturais do país.
Além da sua extensão, as diferentes fisionomias vegetais permitem a ocorrência de uma fauna e flora com diversas espécies raras e endêmicas. Segundo o Fórum Econômico Mundial, o Brasil é considerado o número um em riquezas naturais e o 8º em bens culturais, dentre todas as nações do mundo.
No último dia 19 de junho, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, se reuniu com diretores da Unesco, em Paris, para reforçar e apoiar a candidatura de Paraty e Ilha Grande, além de outras regiões turísticas brasileiras a títulos mundiais. Para ele, o reconhecimento é um importante aliado para o desenvolvimento turístico do Brasil.
“Estive ainda no mês passado, na Unesco, em Paris, exatamente para defender essa possibilidade que enriquece muito o Brasil. Essas localidades vão potencializar o Turismo nacional e, certamente, aumentarão o número de turistas no país e na região. É o Ministério do Turismo trabalhando para que o setor possa realmente ser uma importante vertente da nossa economia, sobretudo com geração de emprego, renda e inclusão social para a nossa população”, comemorou.
Ministro Marcelo Álvaro Antônio com diretoria da Unesco, em agenda na capital francesa no mês de junho. Crédito: Rodolfo Vilela/MTur
A diretora e representante da Unesco no Brasil, Marlova Lovchelovitch Noleto, destacou a diversidade cultural e natural que a região possui. “Formada pelo intercâmbio das culturas indígena, africana e caiçara que se expressam nos bens culturais da cidade, Paraty engloba uma fusão de características próprias do patrimônio material e imaterial. Ao mesmo tempo, a cidade apresenta exemplos de povos tradicionais que usam a terra e o mar de forma sustentável, demostrando a interação do homem com o meio ambiente. Ao se unir à Ilha Grande, o sítio torna-se ainda mais representativo com áreas de beleza natural excepcional”, pontuou.
Acompanhando a decisão, em Baku, a presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogéa, comemora a volta para a casa com mais esse título na bagagem do Brasil. “Em Paraty e Ilha Grande, vemos de maneira excepcional e única uma conjunção de beleza natural, biodiversidade ímpar, manifestações culturais, um conjunto histórico preservado, e testemunhos arqueológicos importantes para a compreensão da evolução da humanidade no planeta Terra”, ressaltou a presidente.
Atualmente, Paraty sedia a Flip (Feira Literária de Paraty), um dos maiores e mais dinâmicos festivais de literatura do mundo. A cidade também já tem o título de Cidade Criativa, concedido pela Unesco, por sua gastronomia. Seus sítios arqueológicos possuem mais de quatro mil anos de existência, contendo vestígios de ocupação humana, como sambaquis, cavernas, estruturas subterrâneas ou submersas. Além disso, a região possui 36 espécies vegetais consideradas raras e contém os habitats naturais mais importantes e significativos para a conservação da diversidade biológica.
A candidatura de Paraty e Ilha Grande é fruto de parceria entre o Ministério do Meio Ambiente, Iphan, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), prefeituras municipais de Paraty e de Angra dos Reis, além do Instituto Estadual do Ambiente (Inea).
OUTRAS CANDIDATURAS – O Brasil concorre ainda em outras duas categorias para títulos da Unesco. A candidatura do Complexo Cultural do Bumba meu Boi do Maranhão, como Patrimônio Cultural Imaterial, será analisada em dezembro, em reunião em Bogotá, na Colômbia. Atualmente são sete os elementos brasileiros na lista de Patrimônio Cultural Imaterial: Roda de capoeira, Círio de Nazaré (PA), frevo do carnaval de Recife (PE), samba de roda do Recôncavo Baiano (BA), expressões orais e gráficas dos povos Wajãpi, Yaõka, ritual do povo Wnawane Nawe para manutenção da ordem cósmica e o museu vivo do fandango.
Outras regiões do Brasil, os Cânions do Sul, na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina, e Seridó, no Rio Grande do Norte, concorrem ao título de Geoparque Mundial da Unesco. Apesar de ser considerado o primeiro do mundo em atrativos naturais pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil atualmente só tem a Serra do Araripe, no Ceará, na Rede Global de Geoparques da Unesco. De acordo com as autoridades do turismo regional, o título deve promover um salto na visitação destes pontos turísticos para o país.
Edição: Cecília Melo